As rodovias estaduais do Ceará, conhecidas como CEs, desempenham um papel crucial na mobilidade e no desenvolvimento econômico do estado. Nos últimos anos, o governo cearense tem investido significativamente na expansão e manutenção dessa malha viária. Entretanto, relatos de deterioração precoce em algumas dessas estradas levantam preocupações sobre a qualidade das obras e a eficácia dos investimentos realizados.

Panorama atual das rodovias estaduais

De acordo com o Levantamento Visual Contínuo (LVC) de 2023, realizado pela Superintendência de Obras Públicas do Ceará (SOP), 81,72% dos 9.117,40 km de rodovias pavimentadas do estado foram classificados como em “bom” estado, enquanto 13,52% foram avaliados como “regular” e 4,76% como “ruim ou péssimo”. Este é o menor percentual de trechos em condições insatisfatórias nos últimos 20 anos.

Por outro lado, a Pesquisa CNT de Rodovias 2023, que avalia tanto rodovias estaduais quanto federais no Ceará, apresenta um cenário mais preocupante. Apenas 0,9% dos 3.758 km avaliados foram considerados em “ótimo” estado, enquanto 60,1% estavam em condição “regular”, 15% em “ruim” e 3,7% em “péssimo”. A pesquisa também identificou 215 pontos críticos nas estradas do estado.

Deterioração precoce: causas e exemplos

Especialistas apontam que algumas rodovias estaduais apresentam sinais de desgaste antes do período esperado. A professora Juceline Bastos, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE), destaca que, embora os pavimentos asfálticos sejam projetados para durar cerca de dez anos, há casos em que a durabilidade é de apenas sete a oito meses.

Um exemplo é o trecho duplicado da CE-060, entre Pacatuba e Redenção, onde foram detectadas fissuras no pavimento. A SOP confirmou as anomalias e informou que, como a obra está em período de garantia quinquenal, a empresa responsável foi notificada para realizar os reparos necessários.

Investimentos e manutenção

Em 2023, o Governo do Ceará investiu R$ 667 milhões em infraestrutura rodoviária, abrangendo obras de implantação, pavimentação, duplicação e restauração. O Programa de Recuperação Funcional das Rodovias Estaduais alcançou 650 km de estradas, com serviços como reciclagem de base, imprimação e microrrevestimento.

Além disso, o estado realiza anualmente o LVC para monitorar as condições das rodovias e orientar as intervenções necessárias. Esse levantamento utiliza tecnologias como coleta de dados georreferenciados e registros fotográficos de alta resolução para identificar defeitos no pavimento.

Impactos econômicos e ambientais

As condições das rodovias têm implicações diretas na economia e no meio ambiente. A Pesquisa CNT de Rodovias estima que, devido à situação insatisfatória das estradas cearenses, houve um prejuízo financeiro de R$ 317,83 milhões em 2022 relacionado a acidentes. Além disso, o uso excessivo de diesel, decorrente das más condições das vias, resultou em um desperdício de cerca de 42,6 milhões de litros, com um custo estimado de R$ 280,47 milhões e aumento na emissão de gases de efeito estufa.

Embora o Ceará tenha avançado na expansão e manutenção de sua malha rodoviária estadual, os desafios relacionados à qualidade das obras e à durabilidade dos pavimentos persistem. A discrepância entre os dados apresentados pelo governo estadual e os levantamentos independentes, como o da CNT, indica a necessidade de uma análise mais aprofundada e transparente sobre a situação das rodovias. Investimentos contínuos, fiscalização rigorosa e adoção de melhores práticas de engenharia são essenciais para garantir estradas seguras e duradouras para a população cearense.